A Aldeia Marakanã é um território sagrado para os povos indígenas. Antes da chegada do colonizador europeu, ali era um espaço de sacralidade, com encontros espirituais e festejos dos povos originários. O local esbanjava beleza e fartura de recursos, pois ali se encontravam os rios Maracanã, Trapicheiros e Joana, que hoje são canais de córrego de esgoto.
O prédio foi construído em 1862 por operários e pessoas escravizadas a mando do Duque de Saxe. Em 1910 foi doado ao Serviço de Proteção aos “Índios”, órgão estatal comandado pelo Marechal Rondon. O objetivo era que o espaço fosse uma área de preservação da cultura indígena. Entre 1953 e 1977, o prédio abrigou o Museu do Índio, criado por Darcy Ribeiro. Após 1977, o museu foi transferido para Botafogo e o prédio ficou abandonado.
Em 2006, indígenas de várias etnias - Guajajara, Pataxó, Tukano, Apurinã, dentre outras - reocuparam o prédio e o seu entorno, para implementação de uma Universidade Pluriétnica, que serviu também como um espaço de referência para o acolhimento de pessoas indígenas em contexto urbano. Com a proximidade da Copa do Mundo e das Olimpíadas, no dia 22 de março de 2013, o território foi alvo de uma violenta ação de despejo que deixou várias pessoas feridas. No local, foi feito um estacionamento.
Em 2015, indígenas retomaram o prédio e em 2016 sofreram novo despejo, em uma ação policial completamente ilegal. Após as Olimpíadas de 2016, voltaram para o local, onde permaneceram por anos sem luz e sem água, defendendo o território. Com muito trabalho e insistência, indígenas cercaram o terreno de 1.500m2 e mantém no local uma Universidade Pluriétnica, com atividades que vão desde o ensino de línguas indígenas, até workshops sobre medicina indígena.
Na Universidade funciona também a Escola de Cinema e Comunicação da Aldeia Marakanã, promovida pelo Projeto Biguá. A primeira turma do nosso curso profissionalizante está em pleno processo de formação e é composta na sua maioria por mulheres indígenas. Todas serão certificadas pela Escola de Comunicação da UFRJ e um documentário está sendo produzido como produto final das oficinas. Além disso, foram doados para a Aldeia câmera, lentes, computador e outros acessórios para que indígenas coloquem em prática o que aprendem nas oficinas.
Através da atuação da advogada indígena Juliana Guajajara e da liderança do advogado Arão da Providência Guajajara, que atua na defesa da Aldeia Marakanã desde o início do processo, indígenas têm uma assessoria jurídica imbatível em defesa do território, com apoio de inúmeras organizações da sociedade civil. A Aldeia segue ameaçada de despejo, mas a equipe jurídica está trabalhando incansavelmente para reverter a decisão.
Enquanto isso, o Coletivo de Comunicação da Aldeia Marakanã está criando conteúdo periódicamente na sua página do instagram: @tekohawmarakana que já acumula 35 mil seguidores. Alguns dos vídeos você confere na galeria ao lado.
O Projeto Biguá também mantém protegido o mais extenso acervo audiovisual sobre a Aldeia Marakanã, com mais de 15 anos de história documentados em arquivos de foto e vídeo. Grande parte desse acervo já foi usada em inúmeras obras audiovisuais, muitas das quais estãos sendo projetadas no Cine Aldeia, um cineclube com exibições que acontecem toda semana na Aldeia Marakanã.